quinta-feira, 11 de abril de 2013

Post nº 73

ALEXANDRE  MAGNO  -  O  JOVEM  GÊNIO  MILITAR  QUE  CONQUISTOU  O  MUNDO

Alexandre Magno - Retrato bastante fiel à realidade, feito com base em seus bustos,
 estátuas e efígies em moedas. Detalhe de tela de Charles Le Brun (séc. XVII)


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A Pérsia era um grande império, mas a sua fraqueza militar ficara evidente na primeira metade do século V AC quando os modestos gregos infligiram-lhe derrota humilhante nas chamadas "Guerras Médicas" (medos-persas) e tornaram vãos os seus desígnios de conquista da Grécia ao destruírem a sua poderosa esquadra na batalha naval de Salamina (480 AC).  Desde então houvera uma paz muito tensa, entremeada de intrigas, querelas políticas e combates ocasionais, com a Pérsia sempre se metendo nos negócios da Grécia por iniciativa própria ou a chamado de uma ou de outra cidade-estado grega em guerra com suas vizinhas. Isto fazia com que os gregos vissem nos persas seus inimigos naturais e quando Felipe os conclamou a guerra todos se alistaram sob a sua bandeira, a qual seria levada adiante por seu filho Alexandre.

Após a vitória dos gregos sobre os persas na batalha naval de Salamina houve 140 anos de paz muito tensa,
até que Felipe resolveu romper o impasse. Tela de Wilhelm von Kaulbach (séc. XIX)

Com um exército de vinte e cinco mil homens, imenso para os padrões gregos, Alexandre invadiu a Pérsia e usando a nova Falange Macedônica herdada do pai derrotou os persas na batalha do rio Grânico, fazendo com que quase todas as províncias ocidentais do cambaleante império passassem para o seu lado. As que não passaram foram aniquiladas a ferro e fogo, como foi o caso da grande cidade portuária de Tiro. À medida que obtinha vitória sobre vitória, Alexandre conseguia mais e mais cavalos, abundantes nas regiões conquistadas e próprios para campanhas militares nas vastas planícies da Ásia. Ele então fez mais três inovações na falange: 1) criou pelotões independentes de cavaleiros armados apenas com espadas que ficavam na retaguarda e só se lançavam sobre o inimigo quando este conseguia escapar das "mandíbulas", saindo pelo campo aos magotes totalmente desnorteado; 2) pôs hoplitas espadachins em torno dos hoplitas lanceiros ao longo do retângulo do bloco de falange, de forma que o inimigo que lograsse passar por entre os "espinhos do porco" ficava frente a frente com um hábil espadachim que o liquidava depressa; 3) com a substituição dos lanceiros das linhas de frente e de flanco por espadachins, reduziu à três as linhas de lanceiros e fez a terceira conservar suas lanças em pé, só as baixando quando o lanceiro da frente tombava. Isto diminuiu os "espinhos do porco", porém deu-lhe mais agilidade e o impressionante espetáculo das enormes lanças levantadas foi psicologicamente importante para aterrorizar o inimigo antes que ele se lançasse ao combate. Lutar com um inimigo de antemão aterrorizado é valiosa vantagem tática e ninguém melhor que Alexandre sabia disso.

Após a derrota final Dario III fugiu, mas durante a fuga foi assassinado por traidores e deixado na margem da estrada, onde Alexandre o achou. Gravura de autor anônimo do séc. XIX 

Foi desse modo que ele esmagou os grandes exércitos persas, em média três ou quatro vezes maiores que o seu. Os inúmeros povos do vasto Império (cossacos, russos, afegãos, paquistaneses, indianos, etc.) nunca tinham visto máquina de guerra tão organizada, fria, azeitada e mortífera, e passaram a se render em massa a “Sikhanda”, como o chamavam. Assim, Alexandre se tornou o novo “Grande Rei dos Arianos” (título do imperador persa), muito mais temido e respeitado do que os seus antecessores, pois fazia questão de participar de todas as batalhas, não só orientando e dando ordens aos seus homens como lutando pessoalmente no meio deles frente a frente com o inimigo.

Alexandre derrota os elefantes do rei Porus na batalha de Hydaspes, também
chamada batalha do rio Indo. Gravura de André Castagne (1899)

Se isso por um lado o fez Guerreiro dos Guerreiros, por outro lhe encurtou a vida, pois foi ferido várias vezes, algumas gravemente, e os relatos indicam que a sua morte prematura aos trinta e dois anos deveu-se principalmente ao enfraquecimento das suas resistências orgânicas graças aos seus excessos (bebia demais) e aos graves ferimentos mal curados. Ainda por cima fora tomado de grave depressão após matar em uma bebedeira o seu melhor amigo, que muitos dizem ter sido seu amante. Algum tempo depois outro oficial, que também diziam ser seu parceiro sexual, morreu vítima de súbita enfermidade durante uma viagem e a sua depressão aumentou ainda mais, fazendo-o apresentar nítidos sintomas de desequilíbrio e megalomania poucos meses antes da sua morte.

Alexandre tratou bem a família de Dario. Tornou-se amigo da rainha-viúva e casou com
uma das suas filhas. Tela de Charles Le Brum (1673)
            
O homossexualismo, sobretudo entre soldados, não era censurável nas culturas greco-orientais e disso não o salvou o seu harém de belas mulheres da mais alta aristocracia nem as lindas princesas persas que tomou como esposas. Astutamente, casara com a belíssima Roxane, filha de um poderoso rei afegão e provavelmente sobrinha ou prima do Rei Dario III de quem o seu pai seria parente e súdito, de forma que ninguém podia negar ser ele membro da família real persa. Soberano por direito de herança do “parente” seu inimigo, assassinado por traidores que mandou executar, foi aceito pelos povos do império como seu novo monarca universal e deu a Dario majestosos funerais, chorando-o hipocritamente.

O império de Alexandre em sua máxima extensão (322 AC)
            
Para consolidar-se no trono, fez-se amigo íntimo da rainha-viúva e tomou sob sua proteção a família real, casando-se com a princesa Barsine, filha reconhecida do falecido rei, pois a poligamia era legal tanto na Macedônia como na Pérsia. Assim agindo, tornou-se "herdeiro" de Dario e legitimou o seu direito à coroa. Ele estava no auge do poder quando o majestoso palácio imperial de Persépolis foi incendiado. Uns dizem que o incêndio foi acidental e outros que foi proposital, tendo sido Alexandre o seu autor, seguindo perverso conselho de sedutora cortesã grega chamada Thaís após ficar temporariamente enlouquecido pelo alcóol e pelas drogas  durante uma bacanal, mas qualquer que tinha sido o caso ele ficou transtornado ao constatar os efeitos da catástrofe e mudou a capital de Persépolis para Babilônia.


Persépolis - reconstituição de uma das alas externas do palácio imperial provavelmente
incendiado por Alexandre em momento de embriaguez e loucura

A decisão lhe foi fatal, pois apesar de esplendorosa a cidade era insalubre, cortada por braços de rio e cercada de pântanos, fábricas de nuvens de mosquitos e fontes de febres mortíferas. Com o organismo enfraquecido pelas guerras incessantes, ferimentos mal tratados, drogas inebriantes pseudamente curativas e excessivo consumo de bebida alcoólica, adoeceu gravemente quando se preparava para conquistar a Península Arábica e morreu em poucas semanas.





Moedas com a efígie de Alexandre ao tornar-se ele "Senhor do Mundo"
            
Alexandre teve um filho com a princesa Roxane, mas não prevendo a morte próxima não lhe nomeou tutor de sua confiança que fosse suficientemente poderoso para garantir-lhe os direitos em caso de sucessão, evento bastante previsível quando se participa de batalha após batalha de forma ativa e arriscada como no seu caso.

Olímpia, mãe de Alexandre, era uma mulher bonita e inteligente, mas era megalomaníaca
e convenceu o filho de que ele era um deus. Medalhão antigo.

Tudo indica que não o fez por superstição, pois desde criança tinham lhe metido na cabeça que era um "deus". Deuses na tradição grega tinham as virtudes e defeitos dos homens comuns, mas diferiam por serem "imortais". A sua mãe psicótica (há indícios de que era apaixonada pela beleza do filho) foi quem criou o mito da "divindade" de Alexandre após fato singular: amamentava-o pela manhã poucos dias após o seu nascimento, em quarto inundado de sol pelas amplas janelas abertas, quando uma pequena águia entrou e pousou no espaldar da cama diante dos olhos assustados das servas reais. Após alguns segundos ela abriu majestosamente as asas sobre o idílico quadro e alçou vôo, saindo pela mesma janela por onde entrara. Verdade ou não, a história espalhou-se e a arrogante rainha, fingindo indiferença, disse que fora apenas uma visita que Zeus, rei dos deuses, viera fazer ao filho em forma de águia. Alexandre cresceu ouvindo a tolice e no mundo supersticioso da época certamente passou a julgar-se um "deus imortal".




Bustos de Alexandre jovem. Há evidências de que Olímpia
tinha pelo filho adoração incestuosa (séc. IV AC)

A belíssima Roxane tem origem e vida controversas. Alguns dizem que ela não era parenta de Dario e nem sequer era persa, sendo o seu pai rei de um dos "tans" (Turkestan, Kazakistan, Afeganistan, Pakistan, etc.) que recebera o conquistador como o verdadeiro Grande Rei dos Arianos. Há indícios de que o Mito Ariano foi habilmente usado por Alexandre para ganhar apoio dos povos a nordeste e a leste da Pérsia, especialmente dos indianos. Ele também tomara como esposa a princesa Barsine, esta realmente filha de Dario, pois a poligamia era legal entre os macedônios e os persas. Roxane estava em segundo lugar ao enviuvar, mas diz-se que ela matou a rival e foi para o Épiro morar com a sogra Olímpia a fim de reivindicar o trono da Macedônia para o seu filho pequenino. Algum tempo depois um usurpador teria assassinado Olímpia, Roxane e a criança, assenhoreando-se do trono macedônico. Todavia as evidências históricas sobre isso são duvidosas e o que se conhece de Alexandre mostra que ele era uma raposa política e sabia que a coisa certa a fazer era casar com mulheres da família de Dario. Também não faz sentido Roxane matar a rival para depois sair com o filho da Pérsia, cenário principal dos acontecimentos e onde tudo era decidido. Todavia, qualquer que fosse o grau de parentesco com o imperador vencido, parece certo que Roxane vivia na sua corte e foi escolhida por Alexandre devido à sua extraordinária beleza, unindo o útil ao agradável. O fato de ser prima ou sobrinha de Dario não a impede de também ser filha de rei menor, parente e súdito do Grande Rei persa.

Não há provas de que Alexandre tenha sido envenenado, embora isso acidentalmente possa ter ocorrido devido a algum "medicamento" tóxico usado na época, mas depois de sua morte a rainha Roxane e o príncipe herdeiro saíram de cena (322 AC), não havendo certeza sobre o que de fato ocorreu. Os seus generais então dividiram o Império entre si e Ptolomeu, general-governador do Egito, exigiu que o sarcófago do Grande Rei fosse levado para Alexandria, cidade que ele fundara. Há mesmo uma história dizendo que ele atacou o cortejo funerário que se dirigia à Macedônia e o desviou para o Egito.


A procissão funerária da Babilônia a Alexandria com o seu catafalco durou meses. Gravura de
autor anônimo do século XIX baseada em descrição do escritor grego Diodorus 

Todavia é certo que Ptolomeu o pôs em majestoso templo-mausoléu em Alexandria após proclamar-se rei da terra dos faraós e criou um culto divino a Alexandre. O mausoléu existiu durante setecentos anos e era visitado por multidões, incluindo grandes personalidades da antiguidade, como César e Augusto. No início do século III DC o imperador Septímius Severus proibiu visitas do público para evitar danos ao corpo mumificado e mandou selar o sarcófago, mas visitas ocasionais de grandes personalidades, como a do imperador Caracala, continuaram a ser admitidas excepcionalmente. No final do século IV DC o imperador Teodósio mandou fechar os templos pagãos e o seu sucessor Arcádio mandou que fossem transformados em igrejas ortodoxas, demolindo-se aqueles que não fossem adaptáveis à nova religião. Assim, o majestoso templo-mausoléu foi destruído por fanáticos cristãos e não se sabe sequer o local onde ele ficava nem o destino dado ao sarcófogo e ao corpo do conquistador.

Depois da sua morte precoce o seu gigantesco Império se esfacelou, mas a Falange Grega ainda reinou invencível por mais de um século como a mais perfeita formação militar tática e estratégica já inventada e só foi superada pela Legião Romana no final da Segunda Guerra Púnica (202 AC). Esta se tornaria a mais perfeita formação militar de todos os tempos e sua organização tática, disposição estratégica e técnicas de combate ainda hoje são objeto de estudos nas Academias Militares do mundo inteiro



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