sexta-feira, 6 de maio de 2011

Post nº 37

UTHER  -  "O  SENHOR  DOS  DRAGÕES"  DERROTA  O  GENERAL  CORNELIUS

O príncipe Uther, apelidado "O Senhor dos Dragões" e pai do rei Arthur,
marcha contra o general romano Cornelius

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Eis como o frade Gildasius Pisanensis relata em seu manuscrito do século VI recentemente descoberto a vitória do príncipe celta Uther sobre o general romano Cornelius:
   
Ao entardecer, Uther foi com seu estado maior para um posto de observação escondido no alto de uma colina e de lá viram a chegada das tropas do general Cornelius, que logo montaram seu acampamento no vale abaixo. Traçaram um cuidadoso diagrama do mesmo e ao cair da noite voltaram para junto dos seus guerreiros. De madrugada, ocuparam no sopé das colinas ao redor do inimigo adormecido as posições que lhes tinham sido predeterminadas e quando surgiram os primeiros clarões do sol as sentinelas de Cornelius viram por entre a neblina os vultos espectrais de milhares de cavaleiros nas elevações em torno deles. Imediatamente deram o alarme e os legionários correram para seus postos de batalha, pondo-se sob o comando dos seus respectivos oficiais. Atordoados pelo barulho dos clarins e pela agitação dos soldados correndo de um lado para o outro, Cornelius e os seus nobres oficiais, que nunca tinham visto coisa semelhante, estavam confusos sem saber o que fazer. Quando a neblina se desfez e o sol brilhou com esplendor, viram que estavam cercados por milhares de cavaleiros usando capacetes com chifres e portando vistosas bandeiras com aterrorizantes figuras de dragões.
           
Apesar da afobação reinante entre o inimigo, os cavaleiros permaneciam imóveis e silenciosos com seus arcos ameaçadoramente nas mãos, prontos para dispararem uma chuva de flechas sobre as tropas cercadas. “Tragam aqui o tribuno Percival, gritou histérico Cornelius para os guardas na frente da sua tenda. Alguns minutos depois o oficial chegou e o general lhe perguntou em desespero: “Você pode  me dizer que diabo está acontecendo”? Percival olhou com desprezo a súcia de nobres aterrorizados que cercava o general e lhe disse com frieza: “Os guias fugiram durante a noite e tudo indica que fomos deliberadamente trazidos a uma emboscada. Estamos cercados por cerca de três mil cavaleiros e se reagirmos seremos todos mortos, pois da posição elevada onde se encontram poderão atirar contra nós quinze mil flechas por minuto e morreremos sem sequer combater. Seremos abatidos como patos nadando na lagoa”!

“Traição, traição”, gritou Cornelius, “fomos traídos pelo bandido Aureliano! O que mais se poderia esperar de um lacaio de Aécio? A mensagem! Cadê a mensagem dele”?  Depois de procurá-la freneticamente e achá-la, rasgou-a furioso e pisoteou os pedaços enquanto gritava: “Mentira! Tudo mentira! Não há tesouro algum! Foi tudo um ardil para me trazer aqui e matar-me”! Virou-se para o experiente tribuno e lhe perguntou suplicante: “O que devo fazer, Percival”?

Enquanto Uther almoça os romanos ao sul,  Arthur janta os scots ao norte da Britannia.
Desenhos de Luciano Felix para a quadrinização de "O Senhor dos Dragões"

           
Tão friamente quanto antes ele respondeu: "Render-se antes que seja tarde; se quisessem nos matar já o teriam feito, mas permanecem imóveis; por isso penso que esperam nosso comandante apresentar-se para negociar". Cornelius viu que tinha uma chance de sobreviver: "É isso! Certamente querem nos aprisionar para exigir resgate"! E virando-se para sua corja falou aliviado: "Felizmente somos ricos o bastante para pagar"! No seu arrogante egoísmo falou aos comparsas sem se dar conta de que este não era o caso de Percival e dos outros oficiais plebeus, mas o tribuno continuou frio e lhe disse: "Não percamos mais tempo general; assuma o comando das tropas e esperemos o ultimato"! O acovardado comandante sequer percebeu que estava recebendo ordens do seu subordinado e montou a cavalo esperançoso, no que foi seguido pelos demais. Percival os conduziu para um local de onde se via numa elevação a cerca de duzentos metros cavaleiro de capa vermelha que parecia ser o líder, pois estava ladeado por grupo compacto de cavaleiros com capa cinzenta, sugerindo tratar-se do seu estado maior. Quando Cornelius se pôs à frente dos seus oficiais, um cavaleiro deixou o lado oposto e veio galopando com uma bandeira branca até ele, ao qual falou em bom latim: "O meu senhor ordena que você compareça à sua presença; se recusar, nós o mataremos e a todos os seus homens sem piedade"! O comandante não parava de tremer e só se moveu quando Percival ordenou-lhe com voz firme: "Vamos logo general, antes que eles percam a paciência"!
           
Ambos seguiram Kay e quando chegaram diante de Uther este disse rispidamente a Cornelius: "Você é o patife que veio saquear a Britannia, mas caso queira sair daqui com vida terá de fazer tudo o que eu mandar. Se seguir à risca minhas instruções eu o libertarei em troca de um bom resgate"! Em seguida disse-lhe em detalhe tudo que deveria fazer e passou-lhe um papel ordenando: "Consulte-o se tiver alguma dúvida; as instruções estão todas aí; você e seus comparsas morrerão imediatamente se cometerem algum erro"! O covarde general viu que sobreviveria e alegrou-se, respondendo sabujamente: "Suas instruções serão cumpridas ao pé da letra meu senhor"! Uther cuspiu para o lado e ordenou: "Então vá logo fazer o que eu mandei"!

Ele voltou, ordenou que os legionários entregassem suas montarias e se enfileirassem por ordem de graduação: os tribunos e os centuriões na frente, seguidos dos oficiais inferiores e soldados rasos, e finalmente os burocratas civis. Foram todos levados a local onde lhes tomaram as couraças e as armas, mas lhes deixaram as insígnias dos seus postos; depois foram acorrentados e levados a outros locais em grupos separados, na mesma ordem hierárquica da fila. Cornelius foi o primeiro a ser despojado, mas ficou livre de correntes e conservou o cavalo para comandar o desarmamento e aprisionamento dos seus homens. Nesta operação demonstrou toda a baixeza do seu caráter, pois, certo de que seria bem tratado e libertado mediante resgate se cumprisse bem a abjeta tarefa, desdobrou-se no seu fiel cumprimento, galopando de um lado para o outro e dando ordens aos soldados e oficiais inferiores como se fosse um general vitorioso: "rápido seus preguiçosos!", “mexam-se cambada de inúteis!", “não tenho o dia inteiro a perder com gentalha como vocês!" e assim por diante, enquanto os captores permaneciam imóveis nos seus cavalos assistindo silenciosamente o sórdido espetáculo. Salvo para dar ordem a algum auxiliar, que logo se afastava para cumpri-la, Uther mantinha-se atento e silencioso, olhando Cornelius como o gato olha o rato antes de dar o bote.


O rato Cornelius ainda não sabe, mas já é almoço do infernal gato-dragão Uther.
Quadrinização de "O Senhor dos Dragões" por Luciano Felix

     
O sol estava no meio do céu quando a operação de aprisionamento terminou e Cornelius galopou até Uther para lhe dizer orgulhosamente, com a sensação do dever cumprido: "Pronto meu senhor, suas ordens foram fielmente executadas"! Pela primeira vez naquele dia Uther sorriu e respondeu com ironia: "Parabéns; você mostrou ser um grande general e possuir completo domínio sobre os seus homens, comandando-os de forma perfeita"! Cornelius fingiu não entender a ironia e respondeu servilmente: "Obrigado meu senhor; procuro cumprir meu dever da melhor maneira possível; graças a Deus tudo correu bem e terminou sem qualquer derramamento de sangue"!
            
Uther limitou-se a responder: "Até agora"! E num movimento rápido atirou seu punhal bem no coração do sorridente general. Este fez uma careta de assombro e escorregou devagar do cavalo, indo ao chão sob os olhares atônitos dos milhares de homens que observavam a cena.  Até mesmo Kay se surpreendeu, apesar de saber que no final Cornelius seria executado, mas não esperava que acontecesse de forma tão inusitada. Por isso ficou assistindo de boca aberta enquanto Uther apeava, sacava da espada e erguendo a cabeça do general pelos cabelos a decepava com um só golpe! Em seguida mandou que um dos guardas a espetasse em uma lança e galopou pelo campo exibindo-a aos guerreiros que o aplaudiam delirantemente.

O Senhor dos Dragões fazia jus à sua fama!




 

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