domingo, 20 de fevereiro de 2011

Post nº 27

CONSTANTINO - A POLÊMICA ORIGEM DO GRANDE IMPERADOR  ROMANO

Estátua do imperador Constantino em York na Inglaterra, próxima às ruínas do quartel da legião que o
aclamou imperador em 306 DC. Ela o retrata ainda jovem no início do seu reinado


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Poucos grandes imperadores romanos tiveram uma ascensão tão tumultuada e uma origem familiar tão controversa quanto Constantino. Uns dizem que ele era bastardo, outros que era ilegítimo, sendo legitimado depois, e um 3º grupo diz que era legítimo! A única coisa certa que sabemos é que sua mãe Helena era filha de um modesto estalajadeiro e ajudava o pai como garçonete. A estalagem ficava em alguma parte da Europa oriental (Romênia, Bulgária ou Sérvia). Era muito freqüentada por militares em trânsito e a bela garçonete deve ter sido alvo de gracejos e “avanços” de galantes oficiais, todos eles repelidos com dignidade porque ela e sua modesta família eram cristãos devotos.
Um dia passa por lá o nobre oficial Constâncio Cloro e os dois se apaixonam, da sua relação nascendo Constantino. É aí que começa a polêmica: os detratores radicais dizem que Cloro era casado, coisa que fazia Constantino filho adulterino e impedia sua posterior legitimação; os adversários moderados dizem que Cloro era solteiro, mas sendo um brilhante oficial não arriscaria seu futuro casando-se com alguém inferior como Helena; já os seus partidários dizem que Cloro casou com Helena porque a família era cristã, sendo nela inconcebível qualquer relação ilegítima de um dos seus membros. Deve ser lembrado que na época o registro civil era precário e só existia nas cidades, destinando-se tão somente à nobreza. Ainda não havia registro eclesiástico, pois o cristianismo era ilegal e paróquias não funcionavam publicamente; casamentos, nascimentos e óbitos dos pobres eram provados apenas por depoimentos orais às autoridades municipais, o mesmo sucedendo com os batizados cristãos. Por isso não poderia haver nenhuma prova escrita do casamento de pobres na época, como era o caso de Helena, pois tudo se baseava na publicidade do ato e na honestidade das testemunhas. Fosse como fosse, Cloro e Helena viveram juntos e ele encaminhou o filho adolescente à carreira militar. Ambos eram muito ligados e enquanto Cloro chegava ao pico da carreira Constantino se distinguia como um dos mais talentosos oficiais do exército, servindo na corte imperial e convivendo com os mais importantes personagens da época, o que lhe seria de grande valia no futuro.

"Diocletianus Augustus" (284-305). Vendo que o Império era muito grande para ser governado por um
só, o dividiu com seus três melhores generais, cabendo a Constâncio Cloro a Europa Ocidental
          
Foi quando o velho imperador Diocleciano, que apreciava bastante o jovem oficial, vendo que o Império era grande demais para ser governado por um só, o dividiu com 3 dos seus melhores generais e criou a Tetrarquia. O Oriente seria governado por ele com o título de augusto e por seu genro Galério com o título de césar; o Ocidente seria governado por Maximiano com o título de augusto e por Cloro com o título de césar, mas sob a condição de tornar-se genro de Maximiano. Fosse Cloro solteiro ou casado, deixou Helena definitivamente e casou com a filha do augusto Maximiano para se tornar césar. A subordinação do césar ao augusto não tinha efeito prático, pois ambos governavam seus territórios como bem entendiam. Assim, Constâncio Cloro tornou-se o soberano absoluto da Gália, da Espanha e da Britannia, mas quando Diocleciano e Maximiano se aposentaram nomearam os augustos que os sucederiam: Galério no oriente e Severo no ocidente. Porém Cloro ignorou solenemente o augusto Severo e proclamou-se augusto do Ocidente, desencadeando a fúria de Galério, que resolvera ser Imperador dos Imperadores e não ia admitir que Cloro o impedisse.

Diocleciano ficou magoado por Cloro não perseguir os cristãos como ordenado
e não o fez "Augusto" do Ocidente ao aposentar-se em 305
          
Mas foi o que aconteceu. Ao contrário de Galério, que era autoritário, brutal e cruel, Cloro era liberal, gentil e generoso; por isso era querido pelo povo, pelo exército e pelos cristãos, que a essa altura já eram poderosa influência na sociedade. Apesar de pagão, Cloro mantivera a sua área livre das terríveis perseguições ordenadas por Diocleciano, Galério e Maximiano (creio que em homenagem à sua antiga amante ou esposa Helena) e isto lhe valeu a gratidão dos cristãos em seu território e em todos os demais territórios do Império, coisa que futuramente seria de fundamental importância para Constantino.          
Descrever a confusão que se seguiu ao rompimento entre os vários imperadores da época cansará o leitor, mas resumiremos dizendo que o jovem general Constantino, que servia sob as ordens de Galério no Oriente, fugiu para o Ocidente e uniu-se ao pai na Gália, tornando-se seu tenente-general. Quando os caledônios, que habitavam o que hoje é a Escócia, invadiram a província romana da Britannia, Cloro e Constantino atravessaram o canal da Mancha e os expulsaram após derrotá-los numa grande batalha no norte da atual Inglaterra. Sentindo-se doente, Cloro recolheu-se ao QG da legião sediada em York e lá faleceu. Então os pesarosos soldados aclamaram como novo césar do ocidente o valoroso filho de Cloro, no que foram seguidos pelas legiões da Gália e da Espanha. Os augustos Severo e Galério não foram consultados e ficaram furiosos com a indisciplina das tropas e a audácia de Constantino, jurando depor o usurpador. Como arma psicológica, levantaram a questão da ilegitimidade do novo e poderoso inimigo.

Moeda romana com a efígie de Constantino (século IV DC)

A confusão ocorrida entre Constantino e os três outros imperadores foi ainda maior do que a ocorrida com o seu pai, bastando dizer que houve um momento em que havia seis imperadores disputando o trono, dos quais o único que tinha a dedicada simpatia dos cristãos era Constantino. Ele não se abalou e deu uma jogada de mestre casando com Fausta, irmã bem mais nova de sua madrasta viúva e também filha do ex augusto Maximiano, que apesar de aposentado continuava prestigiado no Exército. Já sendo sogro do falecido Cloro, tornou-se também sogro de Constantino e este o instigou a romper com Severo, novo augusto do Ocidente e seu oponente. Tudo indica que querendo ver o circo pegar fogo enquanto se fortalecia na Gália, incitou o sogro a botar o filho Maxêncio no lugar de Severo, causando uma guerra tendo de um lado Maximiano-Maxêncio e do outro Severo-Galério. Os dois primeiros derrotaram os outros dois enquanto Constantino "apoiava na retaguarda" o sogro e o cunhado. Mas logo estes brigaram e Maximiano se exilou junto ao genro na Gália, onde foi muito bem recebido. Aí a história se torna um mistério, pois Maximiano apoderou-se do poder enquanto o genro combatia invasores germânicos na fronteira do Reno. Mais que depressa ele voltou, derrotou e executou o sogro, começando assim o longo rol de matanças dos seus próprios familiares.          
Nenhum historiador esclarece bem o acontecido, mas acho que a briga do velho Maximiano com o seu filho Maxêncio foi uma burla para que ele chegasse à Gália insuspeitado e pudesse tramar contra o genro, pois o plano deles seria o primeiro voltar a ser augusto do Ocidente tendo o  segundo como césar no lugar de Constantino. Só que este era muito mais querido pelas tropas e pelo povo do que eles imaginavam e ninguém apoiou o golpe, deixando a cabeça de Maximiano à mercê da espada do genro, que não perdoou a traição do sogro e do cunhado. A partir daí a batalha decisiva pela supremacia no Ocidente entre Maxêncio e Constantino era apenas questão de tempo.   
A sua longa caminhada para a conquista do poder absoluto e a legalização do Cristianismo estava apenas começando.




  

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