domingo, 30 de janeiro de 2011

Post nº 24

BATALHA  DE  AQUILEIA  -  COMEÇO  DO  FIM  DE  ÁTILA


A batalha de Aquileia foi feroz e Átila triunfou a muito custo. Depois
          da vitória vingou-se destruindo a cidade


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Em abril de 452 Átila e os seus ferozes guerreiros hunos cruzaram os Alpes orientais e invadiram a Itália. O primeiro obstáculo que enfrentaram foi a grande cidade romana de Aquileia, a mais importante e rica do nordeste da península. Após uma semana de hesitação devido à superstição dos guerreiros hunos que confundiram legionários negros com demônios, eles atacaram em massa, porém, por incrível que pareça, a cidade resistiu bravamente por três longos meses!

Aécio ficou surpreso por Átila não desistir depois do primeiro mês, pois os hunos gostavam de lutar em campo aberto, galopando velozmente e disparando flechas contra o inimigo, mas detestavam cercos prolongados, nos quais tinham de lutar a pé escalando muralhas. Nesse tipo de luta, enquanto alguns grupos atacavam e eram repelidos, os demais ficavam ociosos aguardando sua vez de atacar; isto os irritava e sempre que podiam evitavam tal tipo de combate. Também o surpreendeu o fato de Átila não deixar uma fração das suas tropas cercando a cidade e avançado com seu imenso exército sobre o resto da Itália. Do ponto de vista militar a atitude do rei huno não fazia sentido. O que Aécio só veio saber depois é que a derrota sofrida na Gália no ano anterior humilhara Átila profundamente e ele decidira vingar-se destruindo Aquileia com ataque após ataque a fim de não dar descanso aos defensores e esmagá-los rapidamente. Porém a poderosa guarnição lhe opôs tenaz resistência, o que o fez se apegar ainda mais ao seu infantil projeto de vingança, alheio ao bom senso militar. O orgulho ferido de Átila, portanto, teve grande influência no resultado final da campanha da Itália.

                       Átila, escultura em cera no Museu de Budapeste. 

Metade da população abandonou a cidade antes da batalha começar, mas a outra metade estava certa da vitória e permaneceu. Porém, com o prolongamento do cerco, decidiram também ir embora e novo êxodo começou todas as noites pelos túneis de esgoto que levavam a um pântano algumas milhas ao sul, cercado de florestas e que se estendia até à costa do Adriático, constituindo excelente esconderijo. 

No início do verão Átila ainda estava parado em Aquileia lamentando seu tolo projeto de vingança e enfrentando terrível dilema: continuar um cerco de resultado duvidoso, que lhe custava grandes perdas e teria resultados pífios mesmo em caso de vitória, ou suspendê-lo e marchar desmoralizado em busca de presas mais fáceis? Seus guerreiros estavam desanimados, a luta perdera intensidade e ele rezava com fervor aos seus deuses pagãos pedindo-lhes para lhe dizerem o que fazer.

Os hunos gostavam muito de animais e desde o início da batalha Átila observava todos os dias uma família de cegonhas que vivia no telhado de uma das grandes torres da muralha. Ele ficara impressionado com a calma e a indiferença das aves pela terrível luta logo abaixo delas, saindo uma de cada vez para buscar comida e voltar depois para alimentar os filhotes. Uma manhã, ele olhava as muralhas quando viu as cegonhas saírem todas de uma vez do alto da torre e se organizarem no céu para um inexplicável vôo migratório fora da estação. Raciocinou que isso se dava por causas outras que não aquelas ditadas pela natureza e interpretou o fato como sendo a resposta dos deuses às suas orações: eles lhe diziam que a cidade iria cair e por isso as aves abandonavam o seu lar antes que ele fosse destruído! Imediatamente comunicou a “mensagem divina” às suas desanimadas tropas e estas olharam para o céu a fim de observar o fenômeno, convencendo-se do estranho oráculo e retornando à batalha com ânimo e esforço redobrados.

O resultado foi ultrapassarem as muralhas e espraiarem-se pela cidade em luta furiosa, pois os legionários decidiram não se render e continuaram a lhes opor feroz resistência, rua a rua, casa a casa, por quase uma semana. No último dia restavam menos de duzentos soldados comandados pelo tribuno Jorgius, entrincheirados na catedral com o bispo Otaciano e dois padres que tinham ficado na cidade para dar assistência religiosa às tropas e ministrar os sacramentos aos soldados agonizantes.


Os legionários romanos lutaram bravamente mas
não puderam salvar Aquileia

O bispo dirigiu-se a Jorgius e disse-lhe que os soldados poderiam escapar por um corredor secreto ligando a catedral aos túneis de esgoto, mas deveriam apressar-se porque os hunos já tinham começado a incendiar o templo; ele e os padres ficariam para enfrentar o martírio. O tribuno consultou os legionários e eles se recusaram a fugir, fazendo-o dizer ao bispo: “O senhor ouviu os soldados e nós vamos ficar, mas alguém precisa contar aos cristãos como nós lutamos até o fim contra os adoradores do diabo na defesa da santa religião de Nosso Senhor Jesus Cristo; por isso ordeno que vá com os padres contar ao mundo o nosso sacrifício e manter viva a verdadeira fé”! O bispo respondeu-lhe: “Sim, os cristãos precisam saber e a fé deve ser mantida”. Abençoou os homens ajoelhados e retirou-se, pois o incêndio começava a se espalhar. Abriu a porta secreta atrás de um altar lateral e mandou que os padres fossem na frente.

Antes de partir e fechá-la, ficou por mais alguns instantes e viu Jorgius discursando aos seus comandados: “Nós não ficaremos aqui dentro para morrer como ratos; vamos para fora mostrar aos demônios como morre um cristão”! Em seguida, pegou um estandarte onde estava pintada a imagem de Nossa Senhora e, com ele na mão esquerda e a espada na mão direita, dirigiu-se à saída acompanhado pelos demais, bradando: “Pela maior glória da Santíssima Virgem Maria”! Abriram o pesado portão e lançaram-se ao turbilhão enquanto o bispo fazia o sinal da cruz, fechava a porta secreta e enveredava pelo túnel atrás dos outros padres.

Nessa mesma noite eles contavam aos refugiados no pântano o que acontecera, enquanto ao longe viam o clarão do incêndio que consumia a cidade.



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