quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Post nº 11

NIBELUNGOS  -  A VERDADE  HISTÓRICA
POR  TRÁS  DO  MITO  GERMÂNICO


A "Cavalgada das Valquírias" é um dos episódios mais famosos das magníficas óperas
de Wagner. Tela do pintor americano William Maud (séc. XIX) 


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Na Idade Média os germânicos procuraram se atribuir uma civilização e um passado glorioso que nunca existiram, pois até o século VI não possuíam cidades na margem direita do Reno, ou seja, na Germania propriamente dita; as que existiam estavam na margem esquerda e tinham sido fundadas por gauleses ou romanos. A Germania era pobre, atrasada e povoada por tribos primitivas que emigravam sem cessar para o ocidente em busca de melhores condições de vida no próspero território do Império; a fome e a miséria entre os povos germânicos, além das ferozes guerras que travavam entre si ou com outros povos igualmente primitivos, foram as verdadeiras causas das chamadas Invasões Bárbaras.

Entre os invasores estavam os belicosos burgundos, que tentaram repetidas vezes cruzar o Reno e só o conseguiram no início do século V, ocupando uma região que passou a se chamar Burgundia ou Borgonha e travando contínuas guerras contra os romanos que tentavam expulsá-los. Finalmente, na década de 420, um tratado de paz concedeu-lhes a região e eles tornaram-se súditos e aliados do Império. Todavia, alguns anos depois tentaram ocupar mais territórios e foram derrotados pelo general romano Flávio Aécio. De volta ao seu território original, entraram em confronto com os hunos e foram massacrados. Finalmente se contiveram e tornaram-se firmes aliados dos romanos, ajudando Aécio a derrotar Átila em 451.  Na Idade Média a Burgundia se tornou um dos mais poderosos principados da Europa, tendo no duque Carlos o Temerário, chamado "O Fazedor de Reis", o seu mais notável líder.


O massacre dos burgundos pelos hunos na primeira metade do século V é simbolizado no  final do poema pela
sangrenta batalha no castelo de Átila. Cena do filme "Die Nibelungen" de Fritz Lang (1924)

Tudo indica que foi após a final celebração da paz com os romanos que ocorreram os fatos inspiradores dos Cantos dos Nibelungos, pois não falam dos romanos, mas falam muito dos hunos e do seu rei Átila a quem os germânicos chamavam Wetzel. A epopéia termina com a morte dos líderes burgundos e de Kriemhilde, esposa de Siegfried que ao enviuvar casa com Átila, por isso podemos situar a ação dos poemas entre os anos 430, quando foi celebrada a paz com o Império, e os anos 450, quando o famoso rei dos hunos morre e o seu império desaparece. Os burgundos não conheciam a escrita e não fizeram registros relativos ao período, mas existem relatos romanos dizendo que na época os seus líderes mais importantes eram Gundefredus e o seu cunhado Sigefredus, sendo que o primeiro era famoso pela astúcia e o segundo pela bravura. A terminação fried era bastante usada pelos germânicos nos nomes próprios masculinos, e estes, quando latinizados, adquiriam a terminação fredus. É possível que um deles se chamasse Guntherfried e o outro Siegfried, e os romanos lhes tenham latinizado os nomes para Gundefredus e Sigefredus. Assim, é razoável supor que os referidos líderes burgundos fossem os Gunther e Siegfried dos Cantos. Os dois teriam rompido devido a um escândalo familiar, pois se dizia que o segundo seduzira a esposa do primeiro, além de se recusar à vassalagem que Gundefredus, com o apoio da grande maioria dos chefes de clãs, se obrigara a prestar aos romanos em troca da paz e dos territórios que ocupavam. Por isso Sigefredus retirara-se para o alto Reno, onde criara um principado e travara sangrentas guerras com tribos rivais; no processo, adquirira fama legendária por sua extraordinária bravura e aliara-se aos hunos, ao contrário do seu cunhado Gundefredus, que se mantivera fiel à aliança com Roma. Quando Sigefredus foi morto, Átila tomou a bela viúva sob sua proteção e exterminou os inimigos do antigo aliado.

No poema, os burgundos do rei Gunther que escapam do incêndio no castelo de Átila são executados
               por ordem da rainha Kriemhild. Cena do filme de Fritz Lang "Die Niebelungen" (1924)

As escassas fontes escritas não mencionam outros personagens nem o envolvimento de Gundefredus na morte do cunhado, ou que esta tenha ocorrido de forma traiçoeira; tampouco dizem ter Gundefredus morrido pela mão de Átila, embora isto possa ter ocorrido quando ele massacrou os burgundos nos anos 430 ou quando invadiu a Gália em 451, promovendo novo massacre. Embora as poucas fontes não se refiram diretamente a Gundefredus (em português Godofredo), elas dizem que os principais líderes burgundos pereceram na batalha, mas não dizem que tenham sido capturados e executados por Átila. Derrotados, os seus guerreiros remanescentes retiraram-se para a Bélgica, onde formaram um novo exército com outros líderes e uniram-se aos francos de Meroveu, participando da coalizão formada por Aécio para derrotar os hunos na batalha dos Campos Catalúnicos,  também chamada "A Batalha das Nações", pois nela participou a maioria dos povos europeus da época. Quanto à morte do temido rei dos hunos, os historiadores são unânimes em afirmar que ela ocorreu por causas naturais em seu palácio de madeira na Hungria dois anos após sua derrota na Gália, não havendo indícios de assassinato. A versão da lenda, de que Wetzel tenha sido vítima de aliados de Gunther e Hagen, não possui qualquer suporte histórico.

Os nebulosos personagens e os poucos fatos historicamente comprovados, que certamente estão por trás da lenda, são os antes mencionados. Tudo o mais nos Cantos dos Nibelungos (seres sobrenaturais, acontecimentos mágicos e detalhes fantásticos) ficam por conta da imaginação popular e do talento criativo de brilhantes escritores e grandes músicos.

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